Por: Marcos Aurélio Chagas.
Começa amanhã a janela para a decisão do titulo mundial de surf de 2023, o WSL Finals.
A competição que acontece em Trestles, desde que o formato que elege o campeão mundial foi mudado, este ano tem previsões de acontecer com o maior mar da trilogia. O Serviço Meteorológico Nacional Americano está compartilhando imagens de satélite que mostram o ciclone tropical JOVA se intensificando rapidamente e se transformando em um grande furacão na costa oeste dos EUA, não se espera que ele chegue ao continente, mas essas combinações podem gerar grandes ondas em Trestles no domingo, com possibilidade de series acima de 8 pés e pouco vento, segundo o site Beachgirl, há rumores que a WSL pode não realizar o evento no domingo, teoricamente o maior dia, com o receio de que a ondulação possa ser excessivamente grande. Caso se confirme essa teoria, ficaria no mínimo estranho para a entidade, primeiro ela tira Pipe da jogada para o titulo, agora, quando a onda mais fácil do planeta pode possivelmente oferecer algum desafio aos melhores surfistas do planeta, não soltar a competição no maior mar, seria mais um dos inúmeros erros cometido pela WSL desde que ela assumiu o comando do surf, espero realmente ver a disputa no maior e melhor mar da janela, que ocorre entre os dias 08 e 16 de setembro. Veja AQUI o que diz a Surfline.
Com as ausências de Gabriel Medina, Ítalo Ferreira e Tatiana Weston-Webb, os goofys entram quase em extinção na competição este ano, todos os homens tem posicionamento regular, entre as meninas, apenas Caroline Marks surfa com o pé direito na frente, minha torcida é toda para ela, espero que ela consiga colocar toda a potência de seu backside em ação para quebrar a hegemonia de Carissa Moore, Stephanie Gilmore e Tyler Wright, que já dura 16 longos anos, a ultima campeã mundial que foge a esses nomes foi a ex-GOAT Layne Beachley, que venceu seu sétimo titulo mundial em 2006, é hora do novo. Vai Caroline!
Entre os homens, a primeira disputa será entre o australiano Jack Robinson, que bateu a carteira de Gabriel Medina em Teahupoo, e o brasileiro João Chianca. Se a competição acontecer realmente em um mar grande, será difícil opinar, afinal, os dois crescem à medida que o mar cresce, porém, em um mar grande sem tubos, acredito que Chumbinho se saia um pouco melhor, ele tem um repertório tão bom quanto o de Robbo, com a vantagem de ter carves mais alongados e manobras mais fortes e explosivas, contudo se o mar estiver menor que o previsto, a vantagem pode pender para o lado de Jack, uma vez que a linha de surf de Chumbinho em condições menores fica muito picada, o que dá uma leve vantagem para Robbo, como podemos ver está tudo muito pareado, mas a verdade é que a ultima vez que eles se encontraram, João Chianca deu um nó em Jack Robinson, ao vencer a competição de Portugal esse ano, com sua primeira vitória na elite, Chumbinho colocou sobre Robbo uma vantagem de duas vitorias em três confrontos, torço para que ele amplie esse placar em Trestles.
Ethan Ewing voltou para o jogo, mesmo não tendo surfado em Teahupoo o aussie fez um ano muito consistente, a ponto de se manter com a terceira posição mesmo com uma etapa a menos. A força do surf de Ethan está onde os olhos mais distraídos não enxergam, borda cravada na água, rabeta onde deveria estar o bico, quilhas sempre à mostra, pressão, velocidade e a célebre elegância do surf de Ewing, podem ser uma combinação perfeita para as condições que estão por vir, acredito que, independente de ser Jack Robinson ou Chumbinho que avance na bateria anterior, eles devem parar no confronto contra Ethan. Analisando pela deficiência de Ethan, não acredito que a falta de aéreos no repertório do aussie seja um fator impeditivo para ele colocar a mão no titulo, suas manobras geralmente são as mais cirúrgicas, ele crava as bordas e corta os lips nos pontos exatos onde as ondas pedem, se a previsão acertar, Ethan se torna ainda mais poderoso para flertar com o título, mesmo sem dar um único aéreo. Um outro fator pode ser algo motivador para Ethan, se ele souber canalizar todas as informações, já se passaram dez anos desde o tricampeonato mundial de Mick Fanning em 2013, o último conquistado pela Austrália, esse é o maior intervalo de tempo que a Austrália já passou sem conquistar um título mundial desde o ínicio do tour em 1976 pela então IPS, em 2018, na chance mais real depois do titulo de Mick, Julian Wilson chegou perto, mas fracassou na missão de ser o campeão da temporada, na ocasião Julian precisava vencer sete baterias, ou seja, vencer o campeonato, ele disputou seis e venceu cinco, ficando com o vice campeonato, este ano, em tese, a missão de Ethan é mais fácil, ele precisa vencer quatro baterias, Steph mostrou o ano passado que isso é possível, resta saber se os locais Griffin Colapinto e Filipe Toledo vão permitir que isso aconteça. Não duvide de Ethan, com uma vitória em Bells e duas finais seguidas nesta temporada, Brasil e J-Bay, ele se mostra apto ao título, Ethan é sério candidato.
O número dois, Griffin Colapinto, passou a vida inteira surfando em Trestles, nascido lá, o local herda toda a pressão de ser o único surfista a ter a oportunidade de quebrar um jejum de 12 anos desde o último titulo dos Estados Unidos, em 2011 com Kelly Slater. Kolohe Andino foi o herdeiro natural dessa pressão, mas a verdade é que em 11 temporadas na elite, ele nunca chegou nem perto disso, agora, Griffin pode não apenas quebrar o jejum, mas quebrar também uma longa sequência de títulos brasileiros, em conversa com um amigo que esteve essa semana em San Clemente, ele disse: “A energia aqui está incrível, além de manifestações públicas dos locais a favor do Griffin, você vê a gurizada de um lado para o outro com camisas e chapéus com o nome do local hero, é perceptível, a torcida que o ano passado era toda do Filipe, esse ano é toda para o Griffin”.
Griffin é um surfista completo, não falta absolutamente nada em seu repertório, não existem condições que seja empecilho para ele surfar bem, tão pouco, critérios que ele não obedeça, de beach breaks a Teahupoo quadrado, Griffin sempre entra na água leve, com sorriso no rosto, pronto para se divertir, apesar disso, nos dois últimos anos, ele chegou em Teahupoo dentro dos cinco, mas saiu de lá fora, agora, chegando no Finals na vice liderança, ele precisa apenas ter maturidade para tentar não sentir a pressão de toda essa expectativa e transformar a expectativa em realidade, porém, é necessário ele combinar esse enredo digno dos mocinhos dos filmes de Hollywood, com os vilões chamados Ethan Ewing e Filipe Toledo, em Trestles, o surf desses três caras são equiparados, pequenos detalhes farão toda a diferença, no caso de Griffin tem um fator a mais, a pressão estará toda nele, vamos ver como ele se comporta, Trestles promete ser uma loucura, não seria cafajeste ao ponto de dizer que gostaria de ver Griffin campeão, mas sim, gostaria de ver ele apresentar seu melhor surf, espero que consiga.
Nos quatro títulos mundiais decididos no WSL Finals, o surfista melhor classificado ganhou três deles, a exceção foi a lendária vitória de Stephanie Gilmore no ano passado, isso aconteceu porque Steph conseguiu lidar com o desgaste físico e emocional, ela vinha da quinta posição, nesse formato, ao líder, cabe apenas o desgaste emocional, isso já faz com que Filipe saia com um ponto à frente de seu adversário, Filipe soube usar essa arma bem o ano passado, fato que tornou ele o primeiro campeão em Trestles que não tinha um titulo anterior, Carissa, Gabriel e Steph quando se tronaram campeões ali, já somavam 13 títulos, esse ano ele chega mais uma vez descansado pela condição de líder, e mais uma vez ele pode fazer história, se Filipe vencer, ele será o primeiro surfista homem a vencer dois títulos mundiais em Trestles. O ano passado o brasileiro chegou como favorito absoluto, esse ano, mesmo surfando ainda melhor, seus adversários são outros e também estão em um nível mais alto, a seu favor Filipe tem a força de ser o melhor surfista do mundo em ondas de high performance, além de ser de longe, o cara que mais disputou decisões na carreira, mas as coisas podem não ser tão fáceis para ele, independente de quem for seu adversário, seja Ethan ou Griffin, eles irão atacar de forma precisa e poderosa, serão adversários duríssimos e colocarão fogo nas gélidas águas de Trestles, é difícil acreditar que Filipe fará uma final tão tranquila como foi a do ano passado, penso que só haverá uma forma dele responder ao ataque poderoso que receberá, ele precisa surfar com a perfeição de uma música bem tocada, poderia citar “Fight Fire With Fire” do Metallica, em tradução livre, “Combata Fogo Com Fogo”, pois, além de precisar pôr em prática o que diz o título da música, Filipe precisará reproduzir também a força e a rapidez com a qual a canção é tocada, para eliminar o risco de ser posto para descansar.
Felipe foi ultra consistente esse ano, ele foi o grande protagonista em uma temporada onde Gabriel Medina e John John disputaram o circuito do inicio ao fim, ele tem sido claramente o surfista mais dominante nos últimos dois anos, mas não podemos ignorar que as previsões das condições do mar, o clima da torcida favorável ao surfista local, o jejum de títulos dos Estados Unidos e Austrália, além de toda ambição dos atuais surfistas em vencer os surfistas brasileiros, tornam a situação de Filipe mais difícil, apesar disso, não, o menos favorito.
Se as previsões estiverem certas e a WSL permitir, domingo será o dia de conhecer o campeão mundial da temporada 2023, desde os títulos de John John em 2016 e 2017, não vemos um campeão back to back, espero que Filipe quebre esse tabu, o surf está do lado dele, todo o resto não. #Go77.
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