Depois de dois anos sem eventos em virtude da pandemia do Corona Virus, Saquarema volta a sediar a etapa brasileira do Championship Tour, o Oi Rio Pro. A entourage da WSL pousa no Brasil depois da polemica etapa de El Salvador, onde Gabriel Medina e Filipe Toledo perderam para o americano Griffin Colapinto em baterias bastantes duvidosas, mas isso é assunto para outra coluna.
Em Saquarema doze surfistas brasileiros competirão, além daqueles que fazem parte da elite, Yago Dora, João Chianca, Michael Rodrigues e Mateus Herdy completarão o time tupiniquim, além dos brasileiros, outros dois sul-americanos, os peruanos Miguel Tudela e Sol Aguirre completam o time de convidados da WSL, Sol Aguirre será a segunda surfista peruana a competir em uma etapa do Championship Tour, a única antes dela havia sido a campeã mundial de 2004 Sofia Mulanovich.
João Chianca vai competir em casa, muito provavelmente com sangue nos olhos, o tal corte da WSL é algo inédito e indigesto, isso não agradou a absolutamente ninguém, o fato de Chianca ser um dos cortados piorou ainda mais um assunto que já era bem polêmico. Sites especializados mundo à fora contestaram bastante não apenas o corte, mas também o resultado de algumas baterias de Chumbinho e sobretudo a formula pela qual acontecem os encaixes de baterias da WSL, isso pelo fato de que, em cinco eventos, Chumbinho encontrou o havaiano John John Florence na mesma chave por duas vezes.
João Chianca foi o mais admirado surfista do primeiro semestre da WSL, ele perdeu sempre de pé, dando show, com atitude, despertando admiração nos quatro cantos do mundo, até da piadista “para dizer o mínimo” STAB. Se ele conseguir a sintonia perfeita entre seu surfe, seu conhecimento local e souber canalizar a energia da torcida, pode sair de Saquarema com um resultado excelente, colocando ainda mais lenha na fogueira de polemicas que a WSL insiste em querer apagar usando álcool.
Ainda entre os convidados, Yago Dora pode vencer qualquer etapa ele só não sabe disso, Michael Rodrigues vive um ano de performances excepcionais, ele conhece o nível da elite, já esteve lá por dois anos 2018 e 2019, em 2022 seu foco é voltar, não tenho dúvidas que ele vai aproveitar a oportunidade e mostrar seu melhor surfe, como fez em Keramas quando chegou a seu melhor resultado da carreira, uma semifinal na elite, perdendo para Jeremy Flores, segundo o próprio Michael nos confidenciou em um bate papo em nosso canal de Youtube, é seu maior carrasco.
Mateus Herdy entra na vaga de Barron Mamiya, assim como Michael, Mateus já fez semifinal na elite no ano passado no México, apesar do garoto prodígio do clã Herdy ter competido a última etapa em Saquarema, em 2019, ele não tem boas memórias já que acabou se machucando, contudo, agora sem nenhuma lesão Herdy pode ir bastante longe também, ele sabe aproveitar as oportunidades que tem na elite, o garoto se apresenta sempre expressando a mensagem que seu surfe pertence à aquele grupo, Herdy é um bom reforço.
Gabriel e Filipe chegam mordidos em Saquarema, eles estão no centro da mais recente polemica de julgamento da WSL, dessa vez uma polemica real, os dois foram claramente subjugados em suas baterias em El Salvador, o que resultou na vitória de Griffin Colapinto, para mim junto com Ethan Ewing os melhores surfistas do tour de nacionalidades não brasileira.
Gabriel e Filipe tem históricos completamente diferentes no Brasil, apesar de ter feito duas semifinais em 2013 e 2016, geralmente os resultados do tricampeão mundial por aqui entram em seus descartes, para ele sonhar com o WSL FINAL sem depender de combinação de resultados ele precisa vencer, vencer e vencer, caso isso aconteça em Saquarema, Gabriel colocará um título inédito em seu currículo, onze aos depois de entrar no tour.
Já Filipe é o nome a ser batido no Rio, o ubatubense é o atual Mister Brasil, ele venceu três vezes por aqui, apenas o Dave Macaulay, pai da Bronte, venceu mais do que Filipe no Brasil, Dave venceu quatro vezes por aqui. Filipe venceu no Postinho em 2015 de forma incontestável, uma vitória maiúscula, tive o prazer de assistir todas as suas baterias da areia, naquela época todos esperavam uma vitória de Gabriel Medina, campeão mundial à época, o champ perdeu uma bateria inacreditável para o havaiano pouco empolgante Keanu Asing. Filipinho mostrou naquele evento o mais alto nível de surfe que o Rio já presenciou, vencendo na final Bede Durbidge.
Em 2018 e 2019 Filipe repetiu a dose com atuações avassaladoras, em 18 ele executou o maior aéreo que já havíamos visto em competição até aquele em Newcastle de Gabriel, nesse aéreo ele anotou um 10 perfeito, colocando Michael Rodrigues e Ian Gouveia seus adversários na bateria do 4º round dentro de uma comb sepulcral, na final Toledo abusou dos tubos da barrinha deixando o homem das cavernas Wade Carmichael sem nenhuma condição de vitoria. Em 19 até esquartejar Jordy Smith na final Filipe venceu também nos tubos da Barrinha, em um mar completamente desgovernado, o favoritíssimo em virtude das condições Kelly Slater, neste dia o campeonato começou em Itaúna e parou no meio do dia para mudar pra Barrinha, depois de Kelly levar o então diretor de prova Kieren Perrow até o pico e eles comprovarem que ali tinha tubos quadrados, mesmo com a manobra para ficar mais competitivo em relação a Filipe, Kelly nem viu a placa da carreta que lhe atropelou. Por seu histórico no Brasil, Filipe é o grande favorito, esperamos que não vejamos julgamentos duvidosos.
Por falar em julgamentos duvidosos, a WSL deve sentir aqui no Brasil a insatisfação do público brasileiro com o baixo nível de julgamento, para não dizer o baixo nível de julgamento com os brasileiros. Nos grupos de Whatsapp e Facebook só se fala em protestos, esperamos que sejam educados e silenciosos caso eles realmente aconteçam.
O evento no Brasil terá a maior estrutura que um campeonato de surfe já viu, ao todo serão três mil metros quadrados, uma estrutura compatível com o tamanho do surfe brasileiro, com o tamanho da torcida e também com o tamanho das desconfianças com relação ao possível direcionamento nos julgamentos da entidade, é importante ter uma boa estrutura, más é importante também que haja investimento em qualificação técnica, porque se as subjetividades continuarem no volume que se apresentam, as teorias conspiratórias se tornarão poços de obviedades.
Amanhã abre a janela do Oi Rio Pro três anos depois da última passagem da WSL pelo Brasil, é hora de assistir, lotar a praia e contribuir com boas energias para a vitória de um brasileiro, apesar das desconfianças sobre o julgamento, nós somos os melhores do mundo e nenhum mar de subjetividades pode mudar isso, lembrem-se, em sete anos nós ganhamos cinco títulos.
Aloha!
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