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Foto do escritorRedação | Vision Surf |

Pipeline 2023: Robbo constrói uma vitória mediana em um mar deplorável.

Por: Marcos Aurélio Chagas.

Nenhum dia é igual ao outro, a maioria das pessoas veem o sucesso e o insucesso como opostos, mas ambos são produtos do mesmo processo ao que os campeões estão sujeitos, a competição.

Pipeline 2023 começou com perdas precoces, Kelly Slater, Ítalo Ferreira, Kanoa Igarashi, Ethan Ewing e Griffin Colapinto, surfistas que habitualmente frequentam o pelotão de frente, nomes que têm intimidade com os canudos, perderam em Pipe no Round 32. Com o outside oscilando em condições razoáveis e ruins nos dias iniciais, as performances foram niveladas por baixo, a exceção ficou por conta da quase perfeição de John John contra Miguel, do show de Gabriel sobre Jake Marshall e da exemplar vitória de Caio sobre o mais indesejado surfista do tour.

John John - Foto; Brent Bielmann

No dia final, o mar oscilou entre muito ruim e péssimo, talvez o pior da história, certamente o pior dos últimos 10 anos. John John que havia flertado com a perfeição no dia anterior, não conseguiu surfar no mesmo ritmo, até porque o mar também não estava no mesmo compasso, no confronto contra Jack Robinson, o havaiano vinha liderando a bateria com ondas medianas, mas Robbo virou a bateria nos minutos finais, sendo um mediano um pouco melhor. Isso é tudo que importa em baterias sem brasileiros.


Filipe Toledo - Foto: Brent Bielmann

Antes de falarmos dos finalistas, é importante pincelarmos a passagem de alguns brasucas. Filipe fez seu melhor resultado em Pipeline desde 2014, quando ele perdeu para Gabriel Medina, também nas quartas, mesmo ficando sozinho no outside por 15 minutos, observando lá de fora a história acontecendo na areia, quando Gabriel saiu do mar para festejar seu título mundial, o primeiro do Brasil.

Chumbinho fez a alegria de brasileiros e gringos ao vestir novamente uma lycra da elite, com performances sempre consistentes, mais uma vez ele deixou claro que, se tem tubos, ele é Top5 e ponto final, isso ficou explicito em seu resultado.

Caio proporcionou ao mundo aquilo que pode ter sido a vitória mais desejada desse evento, a vitória de uma onda só, não apenas isso, ele termina em Pipeline pelo segundo ano consecutivo na semifinal, ano passado ao lado de Miguel Pupo, este ano, junto com outro brasileiro, o promissor João Chianca, carinhosamente, Chumbinho.

Miguel, Yago e sobretudo Gabriel, poderiam ir mais longe, mas vencer todas as batalhas da vida não deve ser uma obrigação, mesmo perdendo, eles honraram suas lycras.

Leonardo Fioraventi - Foto: Tony Heff

Leonardo Fioravanti foi a personificação de um lapso Freudiano neste evento, com apresentação inconsistente na bateria de estreia, perdendo convictamente ao somar 1.60 contra os superfavoritos Gabriel Medina e John John Florence, o italiano conseguiu acertar mesmo errando. Ao perder e se recuperar, Fioravanti conseguiu de maneira despretensiosa, se colocar na chave de baixo da competição, a mais amena. Apesar desse fato não ser determinante para ele chegar à final, certamente o ajudou bastante, já que, passar por Griffin, Callum e Caio, em tese, é um caminho mais acessível do que seu adversário percorreu, Robbo teve que vencer Medina, John John e Chumbinho. Ainda que Fioravanti e Robbo tenham chegado às finais, em nenhum momento eles mostraram surfe de favoritos, suas vitorias foram sempre medianas.

Fioravanti foi avançando com somas oportunas para suas baterias, 11.00 pontos contra Jordy, 10.83 contra Callum e 12.00 contra Caio, mesmo com o mar ruim, podemos dizer que foram médias baixas, já que Jordy fez duas baterias na casa dos 13.00 pontos, Ryan Callinan fez 13.16 e Caio anotou 15.83 em uma de suas baterias, esses caras foram apresentando um surfe bem mais consistentes do que o italiano, mas, com a exceção do Callinan, eles foram perdendo seus confrontos para as apresentações medianas do Fioravanti, um a um.

Na outra chave, acontecia o mesmo com Jack Robinson, ele sacou 11.50 contra Medina e 11.67 contra Chumbinho, ao passo que Gabriel havia alcançado 15.50 contra Jake Marshall e John John 19.33 contra Miguel. Como podemos ver, nem Fioravanti tão pouco Robbo foram de fato os melhores surfistas em suas chaves, mas os dois conseguiram fazer o suficiente para avançarem no xadrez competitivo, com o agravante de que, Jack Robinson sempre recebe a oportunidade de aplicar o cheque mate no fim da partida, a onda da virada sempre vem, no exato momento de sua necessidade, parece que o australiano tem um rígido contrato com as entidades do mar, a onda sempre vem na fôrma exata para a nota que ele precisa, e ele nunca desperdiça os presentes dos deuses do mar. Com esse histórico de oportunidades ou sorte nos finais das baterias, Jack Robinson vem construindo a confiança necessária para se tornar mentalmente forte, o suficiente para vencer na mesma competição, Gabriel Medina e John John Florence.


Carissa Moore - Foto: Brent Bielmann

Carissa Moore e Tyler Wright entraram na água pela segunda vez para disputarem juntas uma final em Pipeline, em 2021, a competição de Maiu terminou em Pipe por conta de um ataque de tubarão na localidade, na ocasião Tyler venceu a havaiana, fazendo história ao se tornar a primeira mulher a vencer Pipeline. No ano seguinte, Carissa mais uma vez estava na final, mas Moana Jones, convidada do evento, deu um nó na pentacampeã mundial, deixando Moore em combinação. Ontem, Carissa não estava disposta a perder uma final pela terceira vez seguida em Pipe, caso isso acontecesse, seria a segunda derrota para Tyler, já daria até para chama-la de freguês da aussie, obviamente a havaiana não deixou essa história se repetir, Carissa brigou pelo título buscando sempre os tubos, ela estava atrás no placar até o terço final da bateria, quando entrou em um tubo limpo e virou a bateria contra Tyler que fazia suas ondas manobrando. Carissa Moore que marcou 11.00 pontos, enquanto Tyler alcançou apenas 10.00, na terceira tentativa, enfim chegou ao ponto máximo do pódio do Pipeline Masters.


Jack Robinson - Foto: Tony Heff

Quando Fioravanti e Robinson entraram na água, o vento que já era suficientemente forte para a prática do surf, aparentemente ficou forte até para a prática do kitesurf, a final masculina aconteceu nas piores condições de toda a janela, eu diria até que foi a pior final da história, uma coisa realmente ruim de assistir, Robbo saiu na frente somando irrisórios 4.17, Fioravanti virou com uma onda de três manobras que lhe valeram 4.00 pontos. Tudo parecia caminhar para que o primeiro e único italiano do tour vencesse seu primeiro campeonato, até Jack Robinson encontrar uma onda de duas manobras alisabel, e a paixão cruel desenfreada dos juízes, lhe darem mil rosas roubadas, nessa onda Jack recebeu 6.00 pontos, tudo que posso dizer é EXAGERADO! Esses 6.00 pontos foram mesmo exagerados. Desde ontem olhei essa onda inúmeras vezes, a conclusão que cheguei é de que ela é uma mistura de picadeiro com sanatório, Robbo fez a parte que lhe cabe no enrredo, a manobra de saída foi até boa, teve uma rápida inversão, nada especial, na segunda, ele dá uma batida de fundo de prancha, fica levemente preso no lip, voltando cheio de expressão corporal na queda – o picadeiro fica por conta dessa encenação circense bem executada pelo Jack, o sanatório vai para a conta dos juízes, profissionais altamente qualificados, que gostaram tanto do lúdico, a ponto de inserirem o lúdico no critério. Com essa performance, Jack Robinson chega a sua quarta vitória em menos de dois anos.

E assim, com um resultado questionável para aquele que foi possivelmente o pior final day da história de Pipeline, terminou a primeira etapa do mundial de 2023, sobre a visão desse conflituoso colunista.


IMPORTANTE: Em nenhum momento acredito que tenha havido uma ação deliberada para favorecer Robbo, mas sim, um erro de julgamento, o que é normal nos mais diversos esportes.


Próximo domingo, dia 12/02, abre a janela de Sunset, mas antes disso, no sábado 11, o GOAT Kelly Slater completa 51 anos. VIDA LONGA AO REI!


Até lá.







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