Enquanto hibernávamos por longos anos em virtude de várias overdoses de bons momentos, afinal vivíamos uma história de sucesso com o Super Surf, e também começávamos uma história de protagonismo no tour, com o talentoso e competitivo Adriano de Souza, que nos dava a esperança de termos nosso primeiro campeão mundial, quando no longínquo 2009 ele venceu sua primeira etapa na elite do surfe, em Mundaka na Espanha, dando um nó no australiano Chris Davidson.
Enquanto ficávamos anestesiados com o sucesso da geração Brazilian Storm, que teve sua explosão com a chegada de Gabriel Medina ao tour, na ocasião o paulista venceu duas das cinco etapas que disputou naquele ano, nos confirmando mais uma vez que sim, nós estávamos na fila do título mundial. Naquele ano, no também longínquo 2011, o Brasil havia vencido pela primeira vez quatro etapas da elite em uma única temporada, Adriano venceu Brasil e Portugal, Gabriel venceu França e San Francisco, importante lembrar, dessas quatro vitórias, três delas foram consecutivas, França com Gabriel (8ª etapa), Portugal com Adriano (9ª etapa) e San Francisco (10ª etapa), novamente com Gabriel.
Enquanto vibrávamos de alegria com todo esse sucesso, nasciam no Brasil alguns dirigentes com aspirações de soberania, absolutismo e perpetuação no poder, é fato, nós nos distraímos e mantivemos nossos olhares para o céu, que se apresentava com estrelas brilhantes pelo inédito título de Gabriel Medina em 2014, na sequência, o honroso título de Adriano de Souza em 2015, título que consagrava uma vida de dedicação, foco, persistência e talento. Nesse interim de seis anos, aqui no Brasil, dirigentes iam se perdurando no poder através de Assembleias esvaziadas, sem fiscalização, cheias de conchavos, irregularidades e comportamentos nocivos à saúde moral, competitiva e financeira do esporte, meu saudoso pai já dizia, quando os bons se distraem os absurdos se multiplicam.
Enquanto aqui no Brasil o cearense Messias Felix recebia o prêmio de campeão brasileiro de 2009, em 05 de dezembro deste mesmo ano, lá no Ceará, uma fatídica assembleia realizada em Fortaleza elegia o atual presidente da CBSurf, o Sr. Adalvo Argolo.
Adalvo assumiu uma entidade que, até a gestão anterior focava exclusivamente no surfe de base, em formar atletas para o futuro. A então CBS havia nascido da ABRASA (Associação Brasileira de Surfe Amador), e no período de 2002 a 2009, gestão anterior a de Argolo, passaram pela entidade nomes como Adriano de Souza, Gabriel Medina, Caio Ibelli, Alejo Muniz, Jadson André, Miguel Pupo, Peterson Crisanto, Jessé Mendes e muitos outros, eles competiam quase que semanalmente, em eventos promovidos pela entidade, desde surfe treinos até circuitos e intercâmbios.
Ao assumir, aos poucos Adalvo foi se envolvendo com o surfe profissional, categoria que desde 1987 era tocada no Brasil pela ABRASP (Associação Brasileira de Sufe Prosissional), o mandante da CBSurf procurava um patrocinador da Abrasp aqui, outro ali, até chegar o momento que esse comportamento começou a gerar conflito para quem liberava o dinheiro, os patrocinadores. Nesse contexto a Abrasp foi perdendo forças, o que resultou em circuitos cada vez mais fracos.
Por outro lado, a CBSurf também não teve sucesso na tentativa de buscar verbas privadas, a única coisa real que ela conseguiu nessas tentativas, foi gerar conflitos e desconfiança sobre quem realmente administrava o surfe profissional brasileiro, os possíveis patrocinadores ficavam em dúvida se trabalhariam com a Abrasp, que realizava os eventos há mais de 30 (trinta) anos, ou com a nova entidade, que tinha uma carta da ISA afirmando ser aquela a entidade máxima do surfe no Brasil, quem perdeu com isso? O surfe!
Apesar desse fracasso na iniciativa privada, que acabou desacelerando a potência que existia no andamento do surfe profissional brasileiro, Adalvo Argolo se especializou em tirar dinheiro do Governo do Estado da Bahia, e, através da Lei Agnelo Piva, também do Governo Federal, em tese para cumprir o objetivo da entidade, promover o esporte, mas o fato é que Adalvo Argolo, Rosaldo Cavalcanti e Ricardo Vargas, vêm usando a maior parte desses dinheiros para pagar seus altíssimos salários, esses três caras custaram mais ao surfe do que o próprio surfe, você pode confirmar isso no último balanço disponível da entidade, do ano de 2018. Mas, como isso pode acontecer?
Adalvo vem se mantendo no poder através de assembleias esvaziadas para aprovar seus balanços bizarros, balanços que qualquer estudante secundarista apontaria uma infinidade de irregularidades, ele vem se mantendo no poder através de votos de Federações irregulares e de dirigentes de outras modalidades, que votam nas Assembleias da CBSurf como se fossem representantes de atletas, Adalvo vem se mantendo no poder por barganhar campeonatos com Federações falidas e inaptas, ele vem se mantendo no poder conseguindo poucos trocados disfarçados de patrocínio para atletas que não honram suas histórias. E qual o resultado da administração de alguém que se mantem no poder assim?
O resultado disso é a catástrofe que vivemos em todos os âmbitos do surfe nacional, ausência de competições, de circuitos, de intercâmbios, de surfe treinos, de qualquer atividade ou planejamento que beneficie um surfista. Vejam o caso recente da cearense Juliana dos Santos, Top 10 no Ranking Feminino Profissional Brasileiro, a garota se quer consegue dinheiro para comprar aquilo que deveria ser básico para qualquer pessoa, o arroz com feijão do dia a dia, uma das dez melhores surfistas profissionais do Brasil não consegue nem se alimentar com a renda de sua profissão. É esse o surfe profissional que temos hoje no Brasil! Analise os onze anos de gestão de Adalvo Argolo e projete isso para mais quatro anos, eu só consigo chegar a uma conclusão, a profissão de surfista acabará no Brasil. Duas gerações já foram perdidas, quantas mais verá seus planos de vida escorrer pelo ralo ao esbarrarem com esse tipo de gestor?
Enquanto no Brasil a CBS bagunçava o mercado privado minando as possibilidades de bons patrocínios, porém, cada vez mais se especializando em tirar dinheiro da União e do estado da Bahia, em São Paulo, no Estado mais rico da União, a situação legal da instituição que deveria defender os interesses dos surfistas, a Federação Paulista de Surfe, foi ficando cada vez mais absurda, se não houvesse um processo que confirma todo o descaso com o esporte, se fosse apenas contado, ninguém acreditaria.
O Sr. Silvio da Silva, mais conhecido como Silvério, se elegeu presidente da Federação Paulista em 2008, registrou a ATA da assembleia de eleição, e, pasmem, a referida ATA foi o único ato institucional de seu mandato, mandato esse que acabou legalmente quatro anos depois, em 31 de dezembro de 2012. Contudo, o Sr. Silvério até poucos dias atrás, em pleno 2021, continuava respondendo como presidente da Federação Paulista de Surfe, uma entidade que há mais de dez anos não realiza uma assembleia, fato que implica em não existir prestação ou aprovação de contas, não existir eleições para presidente e diretoria, não existir nomeação de conselho, enfim, não obedecer às normas e aos princípios democráticos básicos.
Com esse modelo administrativo o Sr. Silvério criou uma instituição sem diretoria, sem conselho, sem poder movimentar conta em banco, sem acesso a convênios públicos, sem nada. Hoje, mesmo que ele quisesse fazer uma assembleia, o cartório não poderia registrar a ATA, já que uma assembleia só pode ser convocada por um presidente no gozo de seus direitos legais, e seus direitos legais acabaram em 31/12/12. Apesar da instituição supostamente existir, tecnicamente ela é uma instituição acéfala.
Então senhores, a pergunta que não quer calar é: Como essa instituição vem organizando campeonatos e respondendo pelo surfe paulista? Poderia responder escrevendo em cinquenta folhas sobre isso, más vou resumir.
A entidade dirigida pelo Sr. Silverio vem realizando eventos em virtude de poucas associações coniventes, muitas associações desinformadas e algumas empresas que ignoram todo esse fato, patrocinando eventos que até já se tornaram tradicionais, como por exemplo o Surf Attack, se olharmos por um ângulo mais apurado, todos são coniventes, mas, essa conivência pode ser facilmente justificada pelo fato da CBSurf realizar competições junto com a Federação, legitimando o direito institucional de uma entidade sem nenhum direito, aliás, ainda na seara das entidades sem nenhum direito institucional, podemos citar também Bahia e Para.
Pois bem, a Associação Santos de Surfe, por entender que a Federação não representava os interesses do esporte e estava inapta administrativamente, iniciou uma ação no dia 04 de dezembro de 2020 contra a FPS, então, em 14 de janeiro de 2021, o Juiz José Wilson Gonçalves da 5ª Vara Civil de Santos, determinou uma intervenção judicial na entidade gerida ilegitimamente pelo Sr. Silverio.
Neste momento a instituição está sob o comando de um interventor, ao menos pelos próximos 90 (noventa) dias, nesse período ele vai realizar uma Assembleia Geral Extraordinária para discutir a situação da entidade com as associações aptas a votar, o interventor vai ainda, nomear uma junta administrativa provisória para administrar com o atual presidente, até a convocação de nova Assembleia Geral onde será definido o rumo da entidade. Um advogado que está a par da situação, disse à Vision, acreditar que será levantada toda situação da instituição, financeiramente e documentalmente, observar até onde as associações são corresponsáveis, para então definirem a melhor solução para a entidade.
Com relação a CBSurf, a contagem regressiva iniciou, o Juiz Joanísio de Matos Dantas Junior, da 5ª Vara Civil da Comarca de Salvador, deu o prazo de 05 (cinco) dias à partir do dia 02 de fevereiro, para Adalvo Argolo se manifestar sobre a alegação de descumprimento judicial, em razão da eleição realizada em 30/12/2020. Por mais interpretações que os advogados de Argolo manifestem, eles não conseguirão burlar a decisão do desembargador que determinou: Fazer um novo edital de eleição e uma nova eleição para os representantes dos atletas. O resultado disso muito provavelmente será uma nova intervenção no surfe.
Adalvo Argolo foi presidente da Federação Baiana de Surfe de 2001 a 2009, em janeiro de 2010 ele assumiu a Confederação Brasileira, ele é alguém extremamente experiente nos processos administrativos internos, nesses vinte anos ele se especializou em deixar uma porta de saída de emergência para fugas seguras em seus estatutos, sempre respaldado pelo 1º Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas da comarca de Salvador, mas, desta vez nenhuma experiência será suficiente, tão pouco o cartório poderá interferir no seu destino, que muitos acreditam ser uma saída pela porta dos fundos do surfe.
Aos poucos o cerco vai se fechando para aqueles que se acham os “donos” do surfe, eles criaram uma cerca imaginaria ao redor deles, cercas muitas vezes fortalecidas com boatos, desinformação e muita acomodação. Eles surrupiaram o surfe dos surfistas, e isso parece ter sido tão fácil que eles acreditaram na solidez de seus castelos de areia, más agora, o banzai tá quebrando lá no terceiro reef e essa onda vai chegar na praia, destruindo castelos e planos de perpetuação no poder, demorou, mas a ampulheta que cronometra o tempo dos indesejáveis, desnecessários e detratores do surfe, foi virada.
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