Sunset proporcionou grandes dias de competições, altas ondas, altas performances, altas médias e muita desclassificação de surfistas brasileiros, logo nas fases iniciais, mas não apenas eles.
O Líder Kelly Slater, sucumbiu diante de Matthew McGillivray, perdeu no surfe e também na estratégia, o modelo de competição criado por Kelly foi fator determinante para sua queda, Kelly marcou uma interferência em John John, que estava no mar surfando contra o rookie Jake Marshall em outra bateria, a bateria que tinha prioridade no lineup, do alto de seus 30 anos de experiência, Kelly cruzou por John John mesmo tendo visto o havaiano, game over para Kelly, game over também para John John, que quebrou a prancha, perdeu tempo, surfou abaixo de suas capacidades e assim como Kelly, também perdeu no round dos 32. Nesse mesmo round, Ítalo Ferreira que já havia perdido precocemente em Pipeline, fez seu pior resultado dos últimos anos, o ano nem começou e ele já tem os descartes.
Jordy Smith que um pouco antes de embarcar para o Havaí havia dito a STAB que sua meta era vencer Pipeline e Sunset, não conseguiu alcançar nem metade de seus objetivos, Jordy precisa falar menos e surfar mais, em Sunset, uma onda que se encaixa perfeitamente em seu surfe, ele perdeu para Ezekiel Lau, surfando mal.
Filipe fez uma bateria enorme contra Ethan Ewing, passaria com folga qualquer outra bateria do round dos 16, mas ele teve o azar de se deparar com Ethan inspiradíssimo, Ewing além de ter de longe o surfe mais bonito do tour, fazia naquele momento a maior nota da competição e o maior somatório do evento, o australiano é um daqueles surfistas que tem potencial para ser campeão mundial, contudo é alguém pouco consistente, infelizmente contra Filipe ele resolveu soltar todo o surfe que estava preso, eu gosto muito de ver Ethan surfar, ele é um paradoxo de borda com progressividade, de linha limpa com radicalidade, inspirado, Ethan nos presenteia com performances animais, confesso que ao final da bateria com Filipe me vi falando sozinho e me perguntando, pô Ethan, logo hoje?
Ao final do round dos 16 já estavam fora da competição em Sunset nomes como: Kelly Slater, John John Florence, Ítalo Ferreira, Owen Wright, Kolohe Andino, Jordy Smith e Filipe Toledo, nomes que costumam figurar no topo das competições, Sunset é realmente uma onda indigesta.
Entre as meninas a situação também não foi diferente, Stephanie Gilmore, Carissa Moore e Tyler Wright somam 14 títulos mundiais, mas no primeiro dia de competições em Sunset, elas somaram apenas 03 inesperadas derrotas. Mas não apenas elas, Moana Jones, campeã em Pipeline, foi a primeira surfista eliminada em Sunset, no round seguinte, Courtney Conlogue, Tatiana Weston Webb, Sally Fitzgibbons e Lakey Peterson perderam suas baterias para a garotada da nova geração, mas ao final, duas velhas conhecidas do tour disputaram o titulo, Brisa Hennessy e Malia Manuel. Malia conheceu sua sétima derrota em finais e Brisa sua primeira vitória na elite, colocando a bandeira da Costa Rica pela primeira vez no topo do tour.
Mesmo o mar tendo diminuído no último dia de competições em Sunset, ainda assim vimos grandes performances, Caio Ibelli abriu o dia escovando Ezekiel Lau, Lau abriu a bateria com aquele surfe bem mais ou menos que estamos acostumados a ver, Caio abriu completamente encaixado, uma pancada por baixo do lip, uma conexão limpa e outra pancada novamente por baixo do lip, de repente... oito pontos. Pouco tempo depois, mais uma onda, outra nota na casa dos oito pontos. Enquanto isso, Marrento Lau que havia dito na entrevista após o round dos 32, que a única possibilidade de alguém vence-lo em Sunset, seria se ele não pegasse onda nenhuma, saia do mar derrotado carregando seu surfe mediano e sua antipatia gigante.
Caio foi o único brasileiro no dia final, ele venceu todas as suas baterias de maneira incontestável, sobrando, ele poderia ter saído de Sunset líder do circuito caso não desse de presente a bateria semifinal para Barron Mamiya, faltando um minuto para o final, quando ao entrar uma onda, de posse da prioridade, Caio deixou o havaiano ir precisando apenas de três pontos para virar, ainda assim Caio foi grande, chegou no Havaí como convidado e se despede como membro da elite. Com a pontuação que Caio já alcançou, certamente ele estará dentro da linha de corte do meio do ano, contudo ele ainda depende da WSL para que isso se confirme, ele precisaria surfar mais uma etapa, para ter um descarte e somar essas duas etapas, vamos aguardar.
Ethan Ewing mesmo perdendo para Kanoa Igarashi fez em Sunset a melhor etapa de sua carreira no CT, o australiano parece que está despertando, se isso acontecer, será mais um nome para rivalizar de igual para igual com os brasileiros, surfe, Ethan tem no pé.
Quando a final começou uma coisa era certa, aquele que vencesse a bateria se tornaria o líder do circuito mundial, Kanoa Igarashi é o tipo de cara que de tanto ele acreditar em si próprio, chegou o dia que nós não tivemos outra opção senão acreditar nele também, ele é competitivo, sagaz, disciplinado e obstinado, é de longe o surfista que mais evoluiu desde que chegou ao circuito, no decorrer da competição Kanoa havia anotado quatro high scores, o que nos levava a crer que ele entrava na final como favorito, ao contrário dele, Barron não tinha feito nenhuma nota acima de oito pontos em toda a competição, contudo, estratégia é aquilo que é modificado taticamente para que as principais ações do adversário sejam neutralizadas, com uma estratégia em mente, pegar as melhores ondas da bateria, Barron neutralizou o obstinado japonês quando pacientemente esperou a onda certa para marcar seu primeiro high score. Barron deu aula de competitividade, de leitura de onda, de comprometimento, de surfe, fez na final aquilo que Kanoa havia feito em toda a competição, somou dois high scores, enquanto isso o oceano enviava para Kanoa as ondas de leituras mais difíceis e medianas que ele surfou no evento, melhor para Barron. Dizem por ai que Mamiya fez um acordo com Sunset, ele surfaria as melhores ondas que entrasse e ficaria com a camisa amarela, por outro lado Sunset poderia dizer que em 30 anos Kelly jamais vencera ali, seria bom para os dois, pois Mamya ao tomar a camisa amarela de Kelly, se vingaria da afrontosa vitória do GOAT nos três segundos finais sobre ele, em Pipe.
Brincadeiras à parte, além de ser o primeiro convidado a vencer em muitos anos no circuito mundial, Barron Mamiya assumiu a liderança do ranking, e, assim como Caio, com a pontuação que eles já alcançaram, certamente deverão fazer parte da elite o ano que vem, já que os pontos que somam para a classificação, são os acumulados até o corte.
Sunset voltou em alto estilo, dissipando a turma de cima entre homens e mulheres, promoveu dois novos surfistas ao status de campeões de etapas de CT, entregou para Portugal o ranking mais improvável de todos os tempos e mostrou ao mundo que começar o circuito com duas etapas no Havaí pode mudar todo o cenário que estávamos acostumados a ver, dificilmente os campeões em Sunset e lideres do ranking terão o mesmo desempenho no resto do circuito, mas e dai? Com o início de temporada no Havaí e o novo modelo de classificação, certamente eles já se garantiram entre os melhores do mundo para 2023. Em Portugal o jogo será diferente, Ítalo e Filipe darão as cartas, lá o circuito deve reestabelecer sua ordem, mas não podemos negar, começar o ano no Havaí foi ótimo, tirou os favoritos de suas zonas de conforto e mostrou para a gente que o desenho do circuito pode influenciar no resultado final, enquanto imaginávamos que John John e Carissa sairiam do Havaí como lideres isolados, Mamiya e Hennessy se impuseram e acabaram com todas as teorias conspiratórias de favorecimentos, sobre tudo ao bicampeão.
Em março o circuito volta em Portugal, e provavelmente o surfe matador dos brasileiros também.
Aloha!
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