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Foto do escritorRedação | Vision Surf |

Com duas viradas indigestas contra brasileiros, Jack Robinson vence G-Land 25 anos após Luke Egan.


A etapa mais esperada dos últimos anos começou e não foi exatamente aquilo que nós esperávamos, vários fatores contribuíram para que G-Land deixasse de ser “A Etapa” para ser mais uma.

Nos dias que antecederam à janela quebraram altas ondas, pudemos assistir nas redes dos atletas, teve gente declarando ter pego as melhores ondas da vida, mas como o surfe não tem um contrato de exclusividade com a mãe natureza, nos dias de competição, aquele G-Land de 8 pés de face limpa, não apareceu! Para piorar a situação, durante os muitos dias off, teve dia que fizeram quatro chamadas, o que torna a relação com os trâmites do surfe as vezes um pouco difícil, sobretudo, levando em consideração o fuso de 10+.

Kelly Slater - Foto: Matt Dunbar

Antes de entrar na água Kelly declarou na coletiva de imprensa oficial da WSL que estava muito feliz em voltar a G-Land (ele venceu lá em 95), e que, o cenário perfeito para ele seria vencer John John na semifinal e encontrar Gabriel na Final. Apesar do entusiasmo, ele e John John não chegaram às semis e Gabriel não chegou à final, fato importante, Kelly esqueceu de colocar em seu prognostico o caminho até lá, nesse caminho tinha o Samuel, que acabou eliminando o GOAT no Elimination Rond, desculpem a redundância. Kelly começou o ano muito bem em Pipe, vencendo lá pela 8ª vez, escapou da armadilha do corte, mas não tem conseguido se manter consistente o bastante para protagonizar.


Jadson André e Gabriel Medina - Foto: Matt Dunbar

Assim como Kelly, Seth Moniz e Barron Mamyia que começaram fazendo finais no Havaí, e estiveram por algum tempo nos TOP5, neste momento amargam a parte de baixo do ranking, em G-Land Seth não competiu porque se machucou e Barron perdeu no Elimination para Jadson. Posteriormente o brasileiro venceu outro havaiano em G-Land, desta vez o bicampeão mundial John John Florence, que aliás surfou com uma proteção no joelho. Jadson acabou sucumbindo no round seguinte diante do tricampeão Gabriel Medina, que fez nesta bateria o maior somatório do evento, Gabriel anotou 17.27 no placar.

Ethan Ewing, surfista que vem sendo um dos maiores destaques do ano, perdeu para ninguém menos que ele mesmo, apesar do Matthew McGilivray ter quebrado na bateria, a inconsistência de Ethan é o seu maior adversário.

No dia Final, apesar do mar inconstante, com algumas baterias com boas ondas e outras nem tanto, para nós brasileiros a emoção foi até o segundo final, literalmente.

Gabriel Medina - Foto: Ed Sloane

Surfando bem mais ou menos Gabriel foi construindo a bateria contra Jack Robinson na semifinal, o brasileiro esteve na frente o tempo todo, faltando dois minutos para o fim da bateria, Jack teve a oportunidade de virar, ele pegou aquilo que talvez fosse a melhor onda da bateria até aquele momento, mas caiu em uma escalada, na tentativa de encaixar a 3ª manobra, ele precisava de 5.33 e não alcançou, aí você pensa, com menos de dois minutos para terminar e Gabriel com a prioridade na mão, já era para o Jack! A pergunta: Combinou com Netuno?


Jack Robinson - Foto: Ed Sloane

Aos 30 segundos para o final entrou uma serie, que tinha visivelmente a segunda onda como a melhor, com a prioridade, Gabriel teve que tomar uma decisão difícil, em qual onda usa-la. A serie se aproximou, faltando 10 segundos para a bateria acabar Gabriel entrou na primeira onda da série, acredito que por entender que não teria tempo para surfar a segunda onda, nesta onda Gabriel fez sua melhor nota do confronto, ampliando um pouco mais a vantagem contra Jack, deixando ele precisando de um sete baixo. No soar da buzina, faltando 1 segundo, Jack conseguiu ficar em pé na segunda onda, surfando aquela que de fato veio a ser a melhor onda da bateria, o aussie fez quatro manobras muito bem aplicadas, verticalizando e invertendo, o que no caso dele fica bem mais aparente para os juízes pelo fato dele surfar de back. Com essa onda Jack fez a melhor nota do confronto e tirou do Brasil a chance de uma final brasileira.

Filipe Toledo - Foto: Ed Sloane

Filipe entrou na sequência em uma bateria protocolar, o abismo entre ele e Connor O’Leary salta aos olhos, e isso não é imparcialidade, é apenas um fato. Connor quebrou sua prancha de forma estranha logo na primeira onda, em uma batida pequena, na onda seguinte, o australiano fez vários movimentos com características indefinidas, não poderíamos chamar de rasgadas, nem de cutbacks, ficou uma coisa meio lá, meio cá. Sem nenhum risco durante toda a bateria, no final dela vimos a mesma situação da bateria anterior, quando Gabriel levou a virada no segundo final, com a prioridade na mão Filipe viu a serie entrar, ele foi na primeira, Connor foi na seguinte, também no soar da buzina, mas para nossa sorte, Jack é Jack e Connor é Connor, Filipe passou a bateria sem susto, se consolidando ainda mais na liderança, independente do resultado da final.

Johanne Defay - Foto: Matt Dunbar

Na final feminina “mon amour” Johanne Defay abriu a bateria com solidez, a francesa é uma surfista absurdamente competitiva. Carissa, que tem como característica abrir a bateria bem, em suas três primeiras ondas não se encontrou, a havaiana demorou muito a reagir, há menos de oito minutos, ela encontrou a onda que veio a ser a melhor da bateria, um 8.50, mas não foi suficiente, a essa altura Johanne já tinha imputado a ela a necessidade de uma onda de 9.17 pontos. Com a prioridade nas mãos a menos de três minutos para terminar a bateria, a francesa grudou em Carissa para não deixar a história escapar de suas mãos, e no soar da buzina ela grudou na taça de campeã, entrando para a história como a primeira mulher campeã em G-Land. Johane tem muita conexão com reefs de esquerdas, ela já venceu em Fiji 2016 contra a mesma Carissa Moore e Uluwatu 2018 contra Tatiana Weston-Webb, felicitations Johanne.

Filipe Toledo e Jack Robinson - Foto: Ed Sloane

A final masculina entrou na água com os dois últimos campeões de etapas do tour, Filipe venceu em Bells e Jack em Margaret. Enquanto Filipe esperava pacientemente a boa, Jack ia construindo a casinha com ondas medianas, quando o brasileiro resolveu usar a prioridade ele foi mais vertical, aproveitou melhor os espaços da onda e mesmo sendo uma onda curta, Filipe fez a melhor nota da bateria, um 7.83, quase entrando no critério excelente. Na onda seguinte o brasileiro fez uma onda curta com três manobras, uma delas muito grande, mas recebeu apenas um 5.33, a mesma nota que Jack conseguiu com duas manobras em sua primeira onda, que acabou inclusive virando descarte, a subjetividade que nunca deixará de existir no surfe, igualou ondas diferentes.

Jack precisava de um 6.67, sem a prioridade nas mãos, mais uma vez, assim como aconteceu na bateria contra Medina, Jack achou a onda e subiu na prancha no soar da sirene, o aussie novamente fez tudo que precisava fazer para vencer a bateria, dessa vez, ele venceu a bateria e também o campeonato, em seu segundo encontro competindo contra Filipe, Jack anotou sua segunda vitória, a primeira foi em 2019, quando ainda como convidado Robinson imputou a Filipe algo que Filipe costuma imputar aos adversários, uma combinação gigante de 18.57 pontos, isso aconteceu na lendária The Box.

Em G-Land Jack bateu a carteira dos brasileiros de maneira indigesta, vencendo duas baterias que teoricamente estavam perdidas, conseguindo sua terceira vitória no período de um ano, sua segunda vitória seguida, sendo o quarto nome a vencer em G-Land 25 anos depois do último campeonato naquele pico, com vitória do também australiano Luke Egan.

Jack Robinson demorou um pouco para acender na carreira, por algum tempo ele ficou na sombra de Kanoa Igarashi e Leonardo Fioravanti, juntos, lá na casa dos 11, 12 anos, eles formavam o trio de gromets da Quiksilver, deles, Jack foi o último a entrar na elite, já sem o patrocínio da Quiksilver. Agora, com a entourage brasileira, prancha Sharpeye e o técnico Grilo, ele conseguiu encaixar a prancha no trilho e virar o jogo, Jack chegou no México em risco de queda o ano passado, mas venceu a competição e se manteve, esse ano ele faz sua terceira semifinal seguida, Bells, onde ele parou na semi mesmo, Margaret e G-Land, onde venceu, a última vez que tínhamos visto uma vitória back to back no tour foi em 2017, com Gabriel Medina vencendo na França contra Sebastian Zietz e em Portugal contra o Julian Wilson.

Ver Jack Robinson vencendo dois brasileiros no segundo final de cada bateria não foi o mais difícil em G-Land, de longe, o pior foi ter que assistir a tudo isso de madrugada pela TV, com narração de futebol aplicada ao surfe, isso sim foi bizarro.

Parabéns Jack Robinson, está iniciando uma carreira que tende a ser grande. Agora, a elite do surfe arruma suas malas e desembarca pela primeira vez em El Salvador, Punta Rocas será o grande palco do surfe mundial por uma semana, essa onda é muito high performance, se o swell encaixar, veremos uma direita linda, com agua quente, proporcionando o show que esperávamos ver em G-Land, e o melhor, com duas horas a menos no fuso.

Até lá.








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