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Foto do escritorRedação | Vision Surf |

Gabriel vence pela 15º vez, assume a liderança e ainda tem Surf Ranch e Teahupoo pela frente.

Depois de mais de vinte anos fora do tour, a parada de Narrabeen voltou para cumprir a difícil missão de não deixar o surfe parar, com o declínio de Bells e Gold Coast em virtude da Covid 19, a WSL e os Governos dos Estados de New South Wales e Western Australia costuraram um acordo cheio de protocolos para realizarem uma perna australiana mais longa que o habitual, com quatro etapas, já que existia a incerteza de realizações do tour em outros países como Estados unidos, Brasil e África do Sul. Em 2021 a elite do surfe mundial vai fazer quase metade da temporada no território dos aborígenes, em Narraben, localidade que desde 1999 está fora da elite, quando Taj Burrow atropelou Kalani Robb na final, chegou-se a metade dessa remodelada perna australiana, para variar com os brasileiros comandando a cena.

Diferente de Newcastle que tinha 05 surfistas brasileiros entre os 08 que disputavam as quartas de final, em Narrabeen apenas Gabriel Medina e Yago Dora figuravam nas quartas, quem viu Yago surfar ficou com a sensação de que ele poderia ir um pouco mais longe, ele fez uma belíssima etapa, surfou na borda, foi maduro na escolha de ondas, mas parou diante de um Colapinto preocupado apenas em resolver a bateria com um aéreo, ele tentou 4637 vezes até enfim conseguir completar um que lhe rendeu um 8.5, na borda, o americano conseguiu apenas 4.0 pontos, ao passo que Yago fez 7.0 e 5.0, Yago caiu de pé, mostrou que está conseguindo resolver a equação onde ele tem que mostrar seu melhor surfe em 30 minutos de bateria.


Tatiana Weston-Webb vice-campeã - Foto: WSL

Além de Yago, Tatiana Weston-Webb também conseguiu realizar seu melhor surfe na regressiva do relógio, sobretudo na semifinal contra Carissa Moore, a loura teve uma escolha de onda perfeita, impondo a sua adversaria uma derrota inconteste, Tatiana somou um par de ondas com características completamente diferentes, ela surfou com perfeição uma esquerda tubular e rápida, e uma direita emparedada onde ela conseguiu atacar com precisão os pontos mais críticos da onda, impondo a líder do circuito sua primeira derrota depois de assumir a lycra amarela. Na final entre duas goofys, embora Tatiana tenha surfado muito bem, Caroline Marks colocou mais volume na bateria e acabou vencendo por uma diferença pequena, Parabéns Tatiana e Caroline Marks Occhilupo, deram um belo show.

Na disputa entre os homens rolaram algumas surpresas, a criação de novas freguesias e velhas rivalidades entraram na água. Gabriel e Caio fizeram enfim uma bateria sem interferências, em um lineup amplo como o de Narrabeen eles optaram em ficar longe um do outro, em uma distância segura onde o magnetismo de atração existente não conseguisse alcançar o outro, melhor para Gabriel que surfou uma onda atrás da outra, fazendo nessa bateria a então melhor nota da competição, enquanto Caio se negava a divorciar-se do casamento infeliz com a prioridade, casamento que ao invés de ter uma limusine na saída, tinha uma combi.

Observando a paz de espirito incomum em um lineup cheio de lycras vestidas por Gabriel e Caio, John John que entrava para a próxima bateria passou amarradão na vibe, falando com Gabriel com um sorriso discreto no rosto como quem dizia, agora o show é meu! Será que ele pensou isso mesmo? Ou nós adquirimos o habito de especular demais?

Ainda que seja especulação, para ser um bicampeão mundial, além de muito surfe é necessário também boas estratégias competitivas, um pouquinho de sorte para que todos os fatores convirjam a seu favor, e uma dose na medida certa de autoconfiança, mas ao encontrar Morgan Cibilic parece que John John não consegue fechar essa equação, o que acarretou duas derrotas em dois confrontos seguidos contra o promissor jovem australiano.

Desde Gabriel Medina, o surfe mundial não via uma chegada tão imponente entre os melhores do mundo como a de Morgan Cibilic, o garoto chegou com a leveza de um experiente veterano, competindo com maturidade, surfando com segurança, aplicando o melhor do surfe de borda, imprensando seus adversários em baterias difíceis de reverter, como aliás vimos ele fazer com Gabriel Medina nas quartas em Narrabeen, e o melhor, com o psicológico de campeão. Com todas essas características, Morgan vem aniquilando aqueles que cruzam seu caminho, e no meio do caminho tinha um John John, tinha um John John no meio do caminho.

O havaiano entrou na bateria tentando estabelecer de volta aquilo que seria o normal, seu domínio sobre o jovem estreante, já que na competição anterior ele havia perdido para a “surpresa” do evento. John surfou bem, ele aplicou seus carvins paradoxalmente limpos e agressivos, atacou os lips com agressividade e inversão de direção, mas como referência para high scores os juízes olhavam para o surfe de Morgan, e Morgan vinha abusando da combinação de links precisos com velocidade, fluidez e muita força, estabelecendo o critério Pottz, duas manobras grandes lá fora e ponto final. Com esse perfil de surfe Morgan estabeleceu uma nova freguesia na elite, e nela encontra-se o bicampeão mundial John John Florence, único surfista que deu o azar de cruzar duas vezes seguidas com Morgan Cibilic nesta temporada, o resultado, todos já sabem.


Morgan Cibilic desgarrando a rabeta - Foto:WSL

Na sequência Ítalo Ferreira perdeu para um surpreendente Conner Coffin que acabou chegando à grande final, ítalo foi parte da primeira grande polemica do ano no critério de julgamento, é verdade que os aéreos de Ítalo vêm se tornando repetitivos e um tanto quanto previsíveis para nós quem assistimos, o que não tira o mérito do dele, afinal está embutido alí um grau absurdo de dificuldade e autoconfiança, mas ainda assim eles estão repetitivos, contudo, o critério de julgamento vem dando a Ítalo as melhores notas quando ele voa, e ele tem voado tanto que aplicou-se a ele aquela máxima que diz que a repetição leva a perfeição, mas, surpreendentemente esse mesmo critério subtraiu de Ítalo um voo com pouso tranquilo, onde depois de pousar, ou melhor algum tempo depois de pousar ele foi pego pela espuma da onda, particularmente esse colunista daria a manobra como completa e Ítalo certamente avançaria aquela bateria, mas os juízes consideraram a manobra incompleta, parece que eles acharam uma brecha no livro de regras e mudaram o entendimento sobre uma manobra ser completa ou não, pior para Ítalo que perdeu a bateria e a liderança do tour. Comenta-se por ai que talvez o fator decisivo para o novo entendimento tenha sido o Morgan Cibilic na bateria anterior.

Além da queda de Ítalo, ou melhor, de terem caído com Ítalo, outro fator, que não é o Gabriel Medina chamou bastante a atenção em Narrabeen. Morgan Cibilic, Ethan Ewing e Jack Robinson estão ganhando todos os confrontos diretos com seus conterrâneos mais experientes, Owen e Julian vêm acumulando derrotas sucessivas para esses caras desde os eventos testes do ano passado, em Narrabeen a história se repetiu, explicitando que a Austrália trocou seus protagonistas em definitivo, aliás, indo além da Austrália, Julian e Jordy parecem cansados do tour, isso está ficando mais claro a cada vez que eles vestem uma lycra.


Gabriel Medina em um fullrotation - Foto: Boskophoto

Gabriel Medina, que de cansado não tem nada, alcançou ontem sua 15º vitória na elite do surfe mundial sem dar qualquer espaço para subjetividade ou novos entendimentos de julgamento, o champ foi passando baterias no modo que lhe torna quase imbatível, sem a prioridade, pegando uma onda atrás da outra, mantendo-se ativo, aumentando a cada onda o seu já elevado grau de confiança, o que lhe resultou em três finais de três etapas. Em Narrabeen Gabriel trouxe para si todos os records dessa curta temporada, ele já tinha a melhor nota do ano em Newcastle, em Narrabeen ele fez a melhor nota da competição, não satisfeito ele foi lá e superou sua melhor nota, depois fez o maior somatório do ano sob a tensão da disputa de uma final, e para completar disputou baterias tensas, especialmente a bateria contra a sensação Morgan Cibilic. Como dissemos aqui, John John teve o azar de encontrar Morgan duas vezes pela frente este ano, já o outro bicampeão, Gabriel Medina, encontrou a sensação australiana três vezes nessa temporada, em Pipeline, Newcastle e agora em Narrabeen. Como sorte e azar são variantes que entram pouco no jogo de Gabriel, dado a clareza estratégica com a qual ele compete, sobretudo quando a competição vai afunilando, não é difícil de concluirmos que ao vencer Mogran o brasileiro não precisou de sorte, competência define as três vitorias seguidas do bicampeão brasileiro sobre a nova promessa australiana. Trazendo isso para um cenário que embora esteja desenhado, poucos enxergam, nós podemos concluir que John John só perdeu para Morgan Cibilic nesta temporada e Morgan Cibilic só perdeu para Gabriel Medina, isso é fato!

É muito cedo para especular onde Morgan Cibilic pode chegar, mas não para afirmar que ele já chegou onde nenhum rookie chegou nos últimos 10 anos, o que nos traz de volta a Gabriel Medina.

Já tendo passado as difíceis baterias contra Morgan Cibilic e Frederico Morais, Gabriel chegou mais líder leve e solto do que nunca na grande final, para encarar seu companheiro de equipe Conner Coffin que fazia sua primeira final na elite do surfe mundial. Há pouco mais de dois anos Gabriel e Conner haviam se encontrado em uma bateria que não era final, más era uma bateria decisiva para o brasileiro, em 2018 no Havaí, no ano do bicampeonato do champ. Se Gabriel perdesse aquela bateria o sonho do bicampeonato cairia por terra, naquela ocasião Conner abriu o confronto fazendo duas notas que colocaram Gabriel em combinação, essa combinação causou no americano uma falsa sensação de segurança, ele sentou sorridente no lineup e viu em cinco minutos seu mundo desmoronar, quando Gabriel saiu de uma combinação de 14.26 pontos, colocando ele em uma combi de 19.43, uma combi sem visibilidade, sem freio, sem porta, sem saída, aquilo foi educativo, Conner percebeu que não se vence um campeão mundial com duas notas medianas.

Com essa lição em mente, Coffin entrou na final em Narrabeen para tentar dois high scores, sempre esperando a boa, essa foi a receita que ele utilizou em toda a competição e lhe levou até a final, mas, assim como no Havaí, em Narrabeen seu estado psicológico desabou quando em menos de 10 minutos de bateria, com ele somando pouco mais de 3 pontos em duas ondas, Gabriel entrou avassalador em uma esquerda, invertendo completamente a direção da prancha em sua primeira rasgata, dando uma paulada passando para aplicar um full rotation na junção, finalizando uma onda que lhe rendeu 9.27 pontos, menos de cinco minutos depois, debaixo da prioridade de Conner Coffin, Gabriel Medina mostrou aquilo que poucos enxergam ao analisar uma performance, o equilíbrio de competências quando o assunto é fundamentos do surfe, Gabriel fez uma nota ainda maior ao fazer de back side o mesmo roteiro que tinha realizado de front side ao marcar seu 9.27, dessa vez ele recebeu 9.50, são detalhes que mesmo não sendo perceptivo para a maioria das pessoas, faz com que Gabriel seja sempre favorito em qualquer condição, embora Narrabeen não seja o Surf Ranch, ficou claro que o equilíbrio do surfe de Gabriel é superior às zonas de conforto que a maioria dos surfistas têm, por isso em Narrabeen, o americano não teve se quer uma falsa sensação de possibilidade de vitória, como teve no Havaí, Gabriel Medina venceu, disparou na liderança e vai para o Oeste Australiano, lugar onde ele nunca conseguiu se dar bem, onde John John geralmente domina, com lycra amarela no corpo, esse talvez seja um fator motivacional para o champ mudar sua história com aquela onda.

Com o cenário construído sob a vitória de Narrabeen, Gabriel ficou com uma liderança bastante confortável, ele abriu 6mil pontos de diferença para Ítalo que é o segundo colocado e 11mil para John John que é o terceiro colocado do Ranking, com esses números, é difícil acreditar que mesmo indo mal em Margaret River, ele perca a lycra amarela.

Ainda sobre Gabriel, é importante observar que ele já não está fazendo mais aquela guerra desnecessária pela primeira onda da bateria, está interagindo mais com os outros surfistas brasileiros, está mais leve nas entrevistas e parece mais acessível que os anos anteriores, o amor faz bem.

Parabéns pelas atitudes, Parabéns pela vitória.

Gabriel é líder, Segue o jogo!


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