Metade da perna australiana foi pra conta e agora é a hora de Margaret River.
No Oeste Australiano a competição rola em dois picos, no Main Break, o mais tradicional, e The Box, um pouco mais à direita de Main Break... um slab sinistro que testa o go for it, a técnica e instinto de cada surfista, esse ano deve ter The Box.
Da última vez que “A Caixa” entrou no cardápio do dia, Ítalo Ferreira mostrou o maior espirito go for it do evento, ele despencou de uma massa d´água bizarra na primeira onda da primeira bateria do dia, o brasileiro surfava contra o aussie Soli Bailey, essa onda valeu 8.17, apenas pelo fato de ter sido a primeira onda do dia, se fosse lá pela quarta ou quinta bateria, certamente Ítalo seria recompensado com um nove alto.
Embora Ítalo tenha carimbado o título de “go for it”, o show maior ficou por conta do convidado Jack Robinson, que fez duas notas na casa de 9.00 pontos, somando 18.57, contra Filipe Toledo que somava inexpressivos 6.73, Jack fez com Filipe aquilo que geralmente Filipe faz com os adversários, colocou o brasileiro em uma comb sem portas, sem freios, sem janelas, sem saída.
Mesmo dominando a competição em The Box, no dia seguinte o campeonato voltou para o Main Break, e lá quem tem dado as cartas tem sido John John Florence, o havaiano sempre encontra ali seu melhor surfe.
Em 2021 a história tende a ser diferente, dos três primeiros colocados, o líder Gabriel Medina é o cara que tem o pior retrospecto naquela onda, sua melhor colocação foi um 5º lugar em 2014, de lá para cá o schedule de Gabriel foi uma sequência de derrotas na 2ª ou 3ª fase, sem nenhuma dúvida, Margaret é a onda mais difícil para o champ, contudo, esse ano ele chega no Oeste Australiano líder absoluto, com cinco mil pontos à frente de Ítalo Ferreira e dez mil a frente de John John. Além disso, Gabriel chega acompanhado da esposa, fato que muda todo o cenário motivacional, depois de sua vitória em Narrabeen, ele manifestou o desejo de fazer final em Margaret, com o histórico de três finais em três etapas na temporada, é melhor não duvidar do champ, ele é o cara a ser batido, inclusive por ele mesmo.
Ítalo é aquele cara que tem mais “atitude” que todos os outros surfistas do tour, o mais pilhado, o mais destemido, em Margaret ele já fez semifinal, perdendo para Sebastian Zietz em 2016, seu segundo ano no tour, Seabasz que aliás venceu a competição naquele ano. Esse ano, mesmo que aparentemente o vice-líder tenha superado a derrota de Narrabeen, é difícil acreditar que Ítalo não chegue com o desejo de dar um tapa com luva de pelica na juizada da WSL, a forma como aconteceu sua derrota em Narrabeen não é algo que se possa simplesmente ignorar, Ítalo chega em Margaret com um extra na sua habitual motivação, parar Ítalo não será uma missão fácil.
As vitorias de John John em Margaret às qualificam como o principal nome naquele pico, ele venceu em 2017 quando fez a maior apresentação já vista naquelas ondas, das sete baterias que disputou na competição, em quatro delas o havaiano fez somas acima de 19.00 pontos, além disso John John também venceu em 2019, com apresentações mais tímidas que 2017, mas ainda assim surfando acima do nível da maioria. Em 2021 John John chega na terceira posição do ranking, dez mil pontos atrás do líder e com a confiança abalada pelas derrotas precoces para a sensação da temporada, o rookie Morgan Cibilic, mas, em se tratando de John John, não há falta de confiança que Margaret River não reestabeleça, se ele for só o reflexo do que foi nos últimos anos, já é candidato a vencer, outro fator que lhe coloca no topo da cadeia em Margaret esse ano, são as condições previstas, John John está mais vivo que nunca.
Morgan Cibilic, que aliás não pode mais ser considerado surpresa, terá em Margaret uma pista perfeita para mostrar toda sua versatilidade, apesar da onda ser um prato cheio para o surfe de borda, e nós sabemos que de borda ele é bom, as condições que possivelmente estarão acima de nove pés durante todo o período da competição, será um teste para o destemido Morgan, que já é o melhor australiano no ranking, o rookie em um curto tempo já mostrou que pode ser incomodo, ele está no caminho dos líderes, sua confiança está em um nível muito alto, ele pode sair de Margaret entre os três melhores, o garoto já domou John John agora é hora dele mostrar que pode domar também as condições nas gélidas massas d´água do oeste australiano.
Jordy, Caio, Filipe e Bourez já fizeram boas apresentações alí, Bourez inclusive já venceu, Caio e Filipe fizeram semifinal em condições similares às que teremos esse ano, o português Kikas, assim como Morgan também vem confiante, ele já é top dez, em Margaret o gajo vai encontrar direitas com bastante face para aplicar seus melhores carvins, na base e no lip. Vamos ver se esses nomes vão tirar um coelho da cartola.
Um nome gera para esse colunista uma grande expectativa, Adriano de Souza. Mineiro já venceu naquele pico em 2015, surfando no Main Break e The Box, em Margaret, Adriano encontra a pista ideal para seus carvins precisos e ataques destemidos, as condições no ano de sua despedida estarão ainda mais extremas que em 2015, mesmo entre os melhores do mundo, haverá separação entre homens e meninos, e certamente nosso Capitão Nascimento estará comandando o pelotão dos homens, se despedir do tour com uma vitória seria uma gloria na vida de qualquer surfista, embora não seja fácil, as condições darão a Adriano a oportunidade de transformar o impossível em realidade, de olho no Capitão.
Gabriel Medina, Ítalo Ferreira e John John Florence chegam em Margaret protagonistas, embora protagonistas, eles chegam com desafios diferentes.
Pelo seu retrospecto, Gabriel chega com o desafio de mostrar que pode ser em Margaret, o mesmo surfista que foi nas três primeiras etapas.
Ítalo chega com o desafio de ter que passar baterias sem usar o recurso dos aéreos.
John John chega com o desafio de mostrar que pode ser o mesmo John John de 2017 e 2019, e avançar além das fases iniciais.
Dia 2 na Austrália, 1º para nós aqui no Brasil, próximo sábado, abre-se a janela em Margaret com previsão de ondas na casa dos dez pés, possivelmente veremos as maiores ondas da temporada, no Main Break e também em The Box.
Façam suas apostas, embora a equação para chegar a vitória não pareça fácil, difícil mesmo é não apostar em Gabriel, Ítalo e John John, em qualquer condição.
Margaret River está de volta e os tubarões são os mesmos, para sorte de todos, Mick não está convidado.
Aloha.
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