Bells terminou em seu pior dia de ondas, mas com o melhor resultado possível. Antes mesmo do evento começar nós dissemos aqui na Vision que nossa aposta seria em Filipe Toledo, quando opinamos entram várias equações na questão, inclusive contamos sempre com o melhor mar possível, mas ainda que não consigamos controlar o mar, os prognósticos não mudam, já que nossos surfistas estão dominando em qualquer condição.
Antes de falar da consagradora vitória de Filipe Toledo, é necessário fazer um apanhado da competição.
Sem surfar absolutamente nada Jordy Smith apelou para uma armadilha escancarada, nada contra usar a regra, afinal elas são feitas para isso, Kelly, Gabriel e Adriano somam 15 títulos mundiais e sempre usaram a regra de prioridade todas as vezes que lhes foram conveniente, no caso de Jordy, tudo contra a maneira como ele usou, em uma clara tentativa de ludibriar o Jackson Backer afim de cavar uma interferência de maneira bem similar à que alguns centroavantes fazem para cavar pênaltis, felizmente os juízes não foram convencidos da interferência e a coisa virou apenas uma polemica daquelas que alimentam opiniões de “especialistas” em redes sociais.
João Chianca mais uma vez perdeu para John John, o brasileiro perdeu sua bateria mas passaria qualquer outra nesse round, a maioria delas, deixando os possíveis adversários em combinação. Os resultados de Chumbinho nem de longe refletem a verdade de seu surfe, se não fosse o azar de encontrar John John inspiradíssimo duas vezes no ano, e uma bateria muito mal julgada contra Conner Coffin em Portugal, Chumbinho certamente seria Top10, essa posição é bem mais compatível com seu surfe do que o risco de queda após o corte na próxima etapa. Depois de sua bateria Chumbinho deu uma entrevista visceral, consagradora, confiante, é possível resumi-la dizendo que ele vai para Margs com a faca nos dentes.
Por falar em corte, com o aumento das tensões para rookies e surfistas consagrados em virtude dele, rolou uma rebelião em Bells que uniu os atletas, homens e mulheres. Segundo o site Beachgrit as lagrimas foram o principal componente de uma reunião entre os surfistas e Jessi Miley-Dyer, insatisfeitos com o corte, os surfistas ameaçam um boicote para Margart River, a WSL já se pronunciou informado que não há chances de não acontecer o corte, vamos ver no que isso vai dar. Nunca pensei em ver Margs ameaçada por outra coisa que não fosse tubarão.
Ethan Ewing enfim torna-se uma esperança real para os australianos, o aussie vem fazendo apresentações convincentes e mantendo uma certa consistência, em quatro etapas ele já fez duas semifinais, em Bells ele perdeu ao escolher uma estratégia errada e dar o azar de cair contra Filipe, em Margaret, onde as ondas exigem carvins potentes, arcos alongados e muita borda, ele se junta a John John, Filipe e Jordy no rol dos favoritos, não me surpreenderia se ele vencesse, ele vem em uma crescente, ganhando confiança, seu surfe é lindo, daqueles que doe até os olhos quando ele sai da onda, os juízes gostam disso, se Ethan vencer será o início de uma nova história, os australianos esperam isso, os admiradores do bom surfe também, mas em Bells ele tinha um Filipe no caminho.
Miguel Pupo e Ítalo Ferreira perderam baterias bem pareadas, baterias que poderiam ir para qualquer um dos competidores, isso já havia acontecido com os dois também nos rounds anteriores, Miguel venceu DVD em uma bateria que poderia ter ido para qualquer um, naquele momento os juízes gostaram mais da fluidez dele do que a agressividade do DVD, contra Callum Robson os papeis se inverteram. O mesmo aconteceu com Ítalo, contra Samuel a bateria poderia ter ido para o rookie, foi para Ítalo, mesmo que, em uma das ondas que entrou em seu somatório a melhor manobra no outside tenha sido um floater bem mais ou menos, aliás, contra o Jack Robinson em uma de suas ondas ele também teve um floater como melhor manobra, nessa bateria os juízes deram a vitória para Jack. Nossos olhos estão programados para ignorar abordagens ruins de nossos bons surfistas, nossa mente está programada para enxergarmos teorias conspiratórias em qualquer derrota brasileira no tour, já vimos derrotas polemicas sim, mas a de Ítalo e Miguel em Bells foram perfeitamente justificáveis dentro da margem da subjetividade que o surfe trafega. O que não é justificável é ver comentarista de TV afirmando que deveria ter três brasileiros nas semifinais, como fez o locutor da SporTV. Esse tipo de comportamento de alguém que notoriamente tem pouca intimidade com o universo do surfe, só faz aumentar a falsa ideia de que os brasileiros são perseguidos, que saudade da ESPN.
É importante dizer, se a vitória não for maiúscula, sempre haverá teorias conspiratórias movidas pela subjetividade e pela inconformidade com a derrota, inconformidade que aliás está ficando cada vez mais clara a cada derrota de alguém que parece não aceitar ser derrotado.
Filipe que não tem nada a ver com isso deu aula de surfe, em todos os sentidos, ele compreendeu os momentos do mar e teve maturidade para aplicar o surfe que cada momento pedia, nos dias iniciais ele abusou da amplitude de seus arcos cravando a borda absurdamente, sempre passando toda a extensão na agua, até finalizar com a rabeta, ele passou seções imensas em alta velocidade, e, só no dia final com o mar mais torto ele usou seu vasto arsenal de aéreos em combinação com grandes manobras. No caminho para a vitória Filipe venceu cinco australianos, Mick Fanning, Mikey “Layback” Wright, Connor O´Leary, Ethan Ewing e Callum Robison, além de vencer aquele que estava defendendo o título de Bells, e é claramente, o surfista mais bem avaliado pelos juízes, John John. Com a vitória em Bells Filipe reestabeleceu a ordem na ponta do ranking assumindo a liderança, ele construiu uma gordura de seis mil pontos para o segundo colocado, Kanoa Igarashi. Muito dificilmente Filipe perderá a lycra amarela em Margaret, mesmo com a predominância de John John naquela onda. É bom lembrar também que o ubatubense é atual campeão em Margaret River e que ele já fez semifinal ali em 2017 em condições muito extremas, todo esse combo de situações alimentam a confiança de Filipe para Margs, embora ainda falte muitas etapas para o tão sonhado título mundial, dá para perceber que sua hora está chegando.
No Feminino Tyler não deu chances às adversarias, ela venceu Courtney Conlogue e Carissa Moore, cada uma dona de três sinos de Bells.
Bells passou e Margs será o tudo ou nada para muitos surfistas, Owen Wright, Ezekiel Lau, Conner Coffin, Leonardo Fioravanti, Frederico Morais, Morgan Cibilic, João Chianca, Deivid Silva e Jadson André, se quiserem ficar seguros devem pensar em semifinal, veja que nesse grupo tem dois surfistas que disputaram o WSL Finals o ano passado, Conner e Morgan, com esse corte depois de apenas cinco etapas, ninguém está seguro, se isso é bom ou não para a evolução do esporte como justifica a WSL só saberemos no futuro, por hora, só conseguimos enxergar pelo lado negativo, o corte pode provocar fim de carreiras de 15 anos como por exemplo a do Owen, ou apagar momentaneamente o brilho de talentos como o de Chumbinho, vira e mexe essa ideia de corte no meio do ano vem à tona, independente do que acontecer, ainda que a WSL volte atrás e reconsidere a solicitação dos surfistas, essa ideia esdruxula continuará ali, em pauta, até quando não sabemos.
Margaret começa próximo domingo, até lá muitas especulações sobre o corte devem acontecer, independente dele, Filipe é o nome a ser batido e nossa maior expectativa de título em 2022.
Até Margs, #Go77.
Comentarios