Por: Marcos Aurélio Chagas
A competição que escolhe os melhores surfistas do mundo aconteceu em seu primeiro dia de janela, e o que dizer dela?
Você pode não concordar com o formato, você pode achar injusto, você pode até achar que ele foi idealizado para tirar títulos dos brasileiros, mas quando você vê Stephanie Gilmore e Filipe Toledo vencerem seus títulos com histórias completamente diferentes, você percebe que ao final o melhor sempre vence, e que, teorias conspiratórias são apenas teorias, Filipe e Steph mostraram ontem que, cada dia é uma oportunidade pra ser o melhor, e independente do formato, o melhor sempre vence.
Ao contrário do ano passado onde só Filipe conseguiu trocar de lugar, este ano, dois personagens que saíram da primeira bateria, chegaram a disputa pelo título, a força de Ítalo Ferreira e a elegância de Stephanie Gilmore desmitificaram a ideia de que só o primeiro ou segundo colocado têm chances reais de título no WSL Finals.
Ítalo passou por todos seus adversários com facilidade, Kanoa nem de longe foi o competidor voraz que geralmente é, Ethan não encontrou as faces abertas para soltar seu jogo de carvins poderosos, Jack Robinson parece ter perdido a direção e a gana, Ítalo entrou na mente dele. Depois de percorrer todo o caminho, enfim o título mundial parecia algo palpável para Ítalo, mas antes da final masculina, é preciso falar de Stephanie Gilmore.
Dona de toda beleza, elegância e estilo, do mais letal e cativante sorriso já visto no surfe, Stephanie “Happy” Gilmore se colocou ontem como a maior surfista de todos os tempos ao vencer seu oitavo título mundial, um a mais que sua compatriota Layne Beachley. Stheph começou a surfar com 10 anos, aos 17 ela já competia como wild card no tour, vencendo dois eventos como convidada, em 2007 ela entrou na elite, vencendo quatro de oito etapas naquele ano, não apenas isso, Steph foi o único caso no surfe, entre homens e mulheres, onde o estreante se tornaria campeão mundial.
A australiana tem entre as mulheres, o estilo mais bonito que se pode ver deslizando sobre as ondas, sempre com um sorriso matador no rosto, ontem, ela perdia sua bateria de estreia por combinação, faltando dez minutos para o final, ela saiu da comb, até Brisa Hennessy perder a prioridade faltando um minuto e ver Steph virar a bateria nos segundos finais, Stheph virou a bateria e a chave. Nos confrontos seguintes ela surfava com a leveza de quem estava completamente encaixada, à medida que avançava ganhava mais e mais confiança, ela desbancou Tati e Johanne, até encontrar a líder e a mais consistente surfista do ano, Carissa Moore.
Carissa viu Stephanie abrir com 8.33, foi perceptível seu abalo psicológico, ela surfava com uma insegurança jamais vista, denunciada por sua postura corporal. Carissa errou manobras simples, perdeu prioridade por remar e não entrar na onda, e o pior, Carissa viu tudo funcionar para Steph, inacreditavelmente, aquela que entrou no WSL Finals no apagar das luzes, que saia da quinta posição, aquela que para muitos não tinha a menor chance, mostrou ao mundo que nem o roteiro mais inverossímil, seria capaz de tirar dela o oitavo título mundial e a certeza que à partir daquele momento, ela se tornaria a maior surfista da história, Parabéns Steph, você foi digna do título que alcançou, sua determinação foi uma mensagem de inspiração para todos, vencendo aquilo que no inicio, parecia ser impossível.
Ao encontrar Filipe Toledo, Ítalo Ferreira fazia uma final 100% brasileira, vindo da primeira bateria do dia, Ítalo passou pelo japonês Kanoa Igarashi, e pelos australianos Ethan Ewing e Jack Robinson, para frustrar as teorias daqueles que acham que querem parar o surfe brasileiro.
Com uma estratégia definida, Ítalo entrou na melhor de três optando pelos aéreos, como fez nas baterias anteriores, enquanto isso, Filipe, o cara que fez mais aparições em pódios este ano, com cinco finais e duas vitórias em dez eventos, o cara que derrotou Jhon John no caminho do sino em Bells, o cara que fez três finais consecutivas, G-land, El Salvador e Brasil, onde marcou sua quarta vitória, usava todo seu conhecimento local para colocar a borda de sua prancha onde a onda pedia, ele soltava suas quilhas e desgarrava a rabeta na hora certa e no lugar certo, enquanto Ítalo buscava as rampas, Filipe buscava preencher os espaços das ondas, ele passava sessões que ninguém mais passaria, Filipe executava floaters sobre lips esfarelados com a segurança de quem dirigia uma Ferrari em uma autopista plana, apesar de ter o aéreo em seu repertório, Filipe optou por não usar esse fundamento, talvez por querer mostrar o poder de seu surfe, mostrar que ter uma linha de surfe definida é mais importante do que ter habilidades demais em um único fundamento, Filipe foi a luta com determinação, ele estava com o olhar indomável de quem sabia que seu dia chegou, então, depois de nove anos na elite do surfe mundial, disputando títulos por muitos deles, Filipe em duas baterias finalizou Ítalo Ferreira e enfim pôde gritar que é campeão mundial, um título mais do que merecido, para quem lutou muitas vezes contra si mesmo, como ficou claro em Make or Break. Hoje a história mudou, a solidez do surfe de borda de Filipe, desbancou os habilidosos voos de Ítalo.
Filipe foi grande, foi exemplo, mostrou que o sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo.
Kelly disse: “Ele é uma força estável e calmante para o Brazilian Storm”, “estou muito feliz que hoje é o dia dele”. Devo dizer: Nós também Kelly!
Parabéns Filipe Toledo, Campeão Mundial de 2022.
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