Se você é surfista, dirigente de associação ou federação de surfe, ou se você simplesmente ama esse esporte, fique atento aos acontecimentos, o futuro do surfe está em jogo nos próximos meses.
Depois de amargarmos as lamurias pela falência do surfe brasileiro internamente, chegou a hora de mudar o cenário do esporte no Brasil. A entidade máxima do surfe brasileiro, a CBSurf, terá que realizar eleições até o dia 31 de dezembro deste ano. A atual gestão, presidida por Adalvo Argolo, tem por obrigação estatutária convocar o pleito até a referida data, contudo se até o dia 31 de novembro o presidente não fizer, as federações farão essa convocação, também resguardadas pelo estatuto.
O sentimento da maioria absoluta das Federações, entidades responsáveis por eleger o presidente é de que não se pode aguardar muito mais, eles consideram como “temerária” a gestão de Adalvo Argolo, que aliás está envolvida em ações judiciais. Adalvo foi afastado pela justiça em dezembro de 2018, destituído do cargo pelas Federações em assembleia no dia 08/02/2019, mas, como o 1º Cartório de Registro de Títulos e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas de Salvador, entidade responsável pelo registro da ATA, se negou a registrar a mesma, Adalvo ganhou tempo e conseguiu reverter a decisão judicial que o afastou do cargo. Além de invalidar temporariamente a assembleia que o destituía em definitivo, como esse processo continua em andamento, em virtude dos infindáveis recursos que a generosa justiça brasileira oferece a quem possa pagar, Adalvo continua presidente até o fim de seu mandato.
Enquanto os surfistas brasileiros dominam o mundo, internamente o surfe amarga seu pior momento na história. A atual gestão caiu em descrédito pela ausência de qualquer ação que possa ser considerada razoável na gestão do esporte, fato este que tornou a atual diretoria inimiga “número um” do surfe brasileiro. A insatisfação é tamanha, e é algo tão absoluto na comunidade, que, recentemente circulou um vídeo postado em massa pelos mais importantes nomes do surfe brasileiro, onde legends, freesurfers e surfistas da nova geração pediam a renúncia de Adalvo Argolo. A Vision inclusive, postou o mesmo vídeo em suas redes sociais, indo além, o presidente tem contra si um conjunto de documentos que materializam sua nocividade ao surfe.
Nestes documentos ficam comprovados; Desvio de verbas da SUDESB (Superintendência de Desportos do Estado da Bahia) entre 2012 e 2013, totalizando 1.4 milhões; Assembleias fraudadas para aprovação de contas; falsidade ideológica em ata de assembleia (diretor financeiro, assembleia 30/03/2019); contratação fraudulenta de imóvel da esposa do presidente para a sede da entidade; declarações fraudulentas ao COB; balanços de 2018 fraudados (sim, foram dois balanços). Além disso, ainda cabem suspeitas de formação de quadrilha sobre o presidente, o diretor financeiro, duas federações e o representante dos atletas, que outorgaram procurações para que o diretor financeiro da entidade, Sr. Ricardo Vargas aprovasse as contas da própria entidade no lugar deles, (essas procurações não estão anexadas na ATA da assembleia realizada em 30/03/2019), além dos fatos expostos, que podem ser comprovados através de documentos amplamente divulgados em nossos programas sobre a CBSurf, ainda cabem muitas suspeitas com relação aos valores exorbitantemente altos que foram dispensados em etapas Master, Amador e SUP. Foram gastos valores muito acima da realidade dessas modalidades, isso ocorreu em 2014 conforme pode ser verificado no balanço daquele ano, contudo não podemos provar que existiu ilicitude em virtude da ausência de documentos que discriminem essas despesas, mas podemos resumir isso tudo em uma única frase, o desenho do atual cenário é catastrófico.
Com a missão de mudar essa dura realidade, duas lendas do surfe brasileiro assumiram a difícil missão de se candidatarem a presidente da CBSurf, entidade que atualmente não tem o mínimo de estrutura. Quando dizemos o mínimo, é o mínimo mesmo, a entidade não tem uma sede, não tem uma secretaria para atender o telefone. Na verdade, não tem se quer o telefone para ser atendido, tente ligar para o número que está no site da entidade e veja o que você ouvirá, isso tudo em pleno ano olímpico. Ainda assim, Ricardo Bocão e Jojó de Olivença aceitaram o desafio que é reconstruir o surfe no Brasil, junto com eles vêm outros grandes nomes do esporte, Teco Padaratz, Paulo Moura, Piu Pereira, Jaqueline Silva, Ricardo Tatuí, Guga Arruda, Picuruta Salazar, Raoni Monteiro, Carlos Burle e muitos outros são membros da chapa de Bocão, do lado de Jojó tem Nelson Ferreira, Luiz Campos "Pinga", Marcelo Andrade, Evandro Abreu, Fred Leite, Carlos “Tuca” Gianotti, Marcio Monteiro, Karina Abras, Juca de Barros, Armando Diniz e outros, um desses times comandará o surfe à partir de 2021.
No início da semana, nós da Vision tivemos a honra de fazer lives com as duas chapas, ouvimos as ideias e as propostas de cada uma, depois de quase seis horas de muito bate papo podemos dizer que independente de quem vença, um novo horizonte parece se abrir sobre o carregado céu do surfe brasileiro.
A missão de reconstruir o surfe brasileiro tem muitos pontos em comum entre as chapas, dentre eles; Estruturar a entidade, fortalecer as federações através de projetos de padronização das entidades, intercâmbios, implementação de surfe nas escolas, surfe de base regionalizado, gestão ambiental, parceria com a ABRASP, e outros, mas elas divergem em relação ao surfe profissional. Na chapa de Jojó, o surfe profissional será de responsabilidade da ABRASP, com circuitos abertos, onde qualquer surfista pode participar. Já na chapa de Bocão, a ideia é criar duas divisões, um circuito nacional de acesso e um de elite, assim como é na WSL. Neste desenho a ABRASP realizará a divisão de acesso, e a CBSurf será responsável pela divisão de elite, criando assim o conceito de Dream Tour.
As chapas também têm planejamentos independentes, a de Jojó planeja criar um Cadastro Nacional do Surfe, específico para atletas, comissão técnica, dirigentes, treinadores, professores, escolinhas, managers e indústria, com o intuito de ter uma comunicação melhor com todos, já a chapa de Bocão tem o plano de criação de Centros de Treinamentos Regionais e o Prêmio CBSurf, um evento para entrega dos prêmios aos surfistas que forem eleitos os melhores em fundamentos específicos, e também de entrega de troféus para os campeões de cada categoria dos circuitos da entidade. Além disso, estarão presentes comissão técnica, equipe dos surfistas, indústria do surfe e mídia especializada, resumindo, uma grande confraternização de todos aqueles que fazem o esporte.
Independente da chapa que vencer, fica claro que existe um planejamento para a gerencia do surfe nacional, planejamento que nós não vimos nem no papel, tão pouco em realizações nos últimos dez anos. Infelizmente as memorias que ficam desse período é de ausência absoluta de qualquer plano de gestão, ausência de investimento em competições e uso da maior parte do dinheiro da Lei Agnelo Piva, que é a única receita da atual gestão, para pagar os altos salários do presidente, diretor técnico e diretor financeiro, esses caras hoje, custam mais ao surfe do que o próprio surfe.
Embora manobras fora do mar estejam sendo realizadas no intuito de protelar essa eleição, as federações não permitirão; É fato, as eleições estão vindo aí, como já dissemos se o presidente não marcar uma data até 31 de novembro, as Federações farão, e ao contrário das eleições de 2010, 2013 e 2016, que elegeram Adalvo Argolo, desta vez as federações e as chapas estão buscando dar transparência e credibilidade ao processo, por isso estão convidando para participar como fiscais do pleito entidades como o Ministério Público, representantes da Secretaria Nacional dos Esportes, (antigo Ministério dos Esportes), Secretaria de Esportes do Município e Estado onde as eleições ocorrerão, além dos representantes de Atletas do COB. Essa eleição decidirá o futuro do surfe brasileiro, participe, independente de quem vença a CBSurf do futuro é uma mudança de ideias, de comportamentos, de paradigmas, de modelo de gestão, ela pode representar o sepultamento de uma década perdida no surfe do Brasil, não fique alheio a isso, seu interesse e envolvimento sobre o assunto pode definir o futuro do esporte.
Segue abaixo a apresentação da Chapa do Ricardo Bocão com planejamento, até o fechamento dessa edição não conseguimos contato com a chapa do Jojó para solicitação do documento.
Redação | Vision Surf
Por: Marcos Aurélio Chagas
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